O novo cenário, as novas estratégias das Instituições Escolares

Não vivido pelas últimas gerações um cenário mundial como o atual, a última lembrança das escolas fechadas temporariamente ocorreu na pandemia da gripe H1N1, na época ainda conhecida como gripe suína, chegou ao Brasil em meados de maio de 2009.

H1N1 não se compara ao Coronavírus. Hoje, em 21 de junho, números expressam o quanto de calamidade o mundo vive.  No Brasil já são 1.085.038 casos confirmados de pessoas infectadas pelo COVID 19, de acordo com a OMS.

Segundo o Ministério da Saúde, Coronavírus é uma família de vírus que causa infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China. Provoca a doença chamada de coronavírus (COVID-19).

COVID-19 é uma doença causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, que apresenta um quadro clínico que varia de infecções assintomáticas a quadros respiratórios graves. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a maioria dos pacientes com COVID-19 (cerca de 80%) pode ser assintomática e cerca de 20% dos casos podem requerer atendimento hospitalar por apresentarem dificuldade respiratória e desses casos aproximadamente 5% podem necessitar de suporte para o tratamento de insuficiência respiratória (suporte ventilatório).

Dentre as medidas propostas, todos os países adotaram o isolamento social como forma de progressão da transmissão da COVID 19. No Brasil, a suspensão das aulas nas redes pública e privada a partir de meados de março foi determinada por prefeitos e governadores em consonância com a OMS.

Com a suspensão das aulas, a partir da publicação de deliberação e indicação pelos órgãos normativos (Conselho Estadual de Educação, Secretarias Estaduais de Educação e Diretorias Regionais de Ensino), seguindo modelos de ensino de outros países, na pandemia, o Brasil adotou o ensino remoto com aulas não presenciais.

Para tal, a DELIBERAÇÃO CEE N° 376, DE 23 DE MARÇO DE 2020, apresentou a solicitação para as escolas, do Plano de Ação Pedagógica, onde cada Instituição escolar pôde estabelecer, junto com a direção, coordenação pedagógica e equipe docente, estratégias para garantir as condições efetivas de continuidade dos estudos, na modalidade não presencial. Dentre o Plano de Ação, a Deliberação 376 ressaltou que as instituições de ensino deveriam divulgar, junto à comunidade escolar, as formas de prevenção e cuidados, de acordo com os órgãos de saúde, bem como o período de suspensão das atividades presenciais na própria instituição (sendo prorrogadas ou interrompidas de acordo com os órgão governamentais).

Nas demais orientações, as instituições de ensino básico deveriam, com a participação de seu corpo docente, planejar e organizar as atividades escolares, a serem realizadas pelos estudantes fora da instituição, indicando:

  • Os objetivos, métodos, técnicas, recursos, bem como a carga horária prevista das atividades a serem desenvolvidas de forma não presencial pelos alunos, de acordo com a faixa etária;
  • Formas de acompanhamento, avaliação e comprovação da realização das mesmas por parte dos alunos.
  • Nos locais de difícil acesso, onde houver impossibilidade de acompanhamento aos estudantes, a escola tem que garantir que não haja prejuízos aos mesmos. 

A divulgação do Plano de Ação deveria ser explicitada para toda comunidade escolar, com efeito imediato, respeitando a legislação em vigor, os currículos das instituições e a Deliberação. Tendo as escolas privadas, o compromisso do envio de uma cópia do plano de ação pedagógica (remetida à Inspeção Escolar).

As escolas precisaram se adaptar e providenciar recursos e ferramentas tecnológicas, assim como capacitação para professores em um curto tempo.

Por aulas não presenciais e remotas, entende se que são atividades ministradas com o uso das tecnologias mediadas pelo professor. As aulas podem ser por videoconferência ou demais recursos, gravadas ou ao vivo.

 As dinâmicas das aulas não presenciais precisam ser adequadas à identidade da escola, e otimizadas nas aprendizagens dos alunos. Cada aula precisa ser planejada e avaliada para assim ser flexível às novas demandas pedagógicas.

Passados três meses, Europa e Ásia iniciaram a retomadas às aulas com protocolos específicos de saúde e com estratégias pedagógicas diferenciadas. No Brasil, as escolas iniciaram a organização do plano de retomada e além de todo exposto, a escola terá mais um grande desafio na elaboração e cumprimento com responsabilidade do protocolo de prevenção e cuidados ao COVID19 que protejam funcionários, alunos e familiares. Os protocolos devem seguir o distanciamento preciso dentro do ambiente escolar, higienização pessoal, uso de equipamentos de proteção individual, sanitização do ambiente, comunicação e monitoramento. Os resultados do trabalho da escola, de forma global, terão a saúde e educação como parceiras nesse processo de retomada, adaptação e continuidade do ano letivo.

Precisando de modelos a seguir, as escolas buscam informações eficientes e para dar orientação e respostas às inseguranças frente ao cenário, o Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão colegiado ligado ao Ministério da Educação(MEC), elaborou uma resolução normativa (homologada em 1 de junho) que destaca etapas indispensáveis para o período de volta às aulas:

  • Acolhimento de alunos e professores,
  • Avaliação diagnóstica e
  • Alinhamento das ações pedagógicas com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

O documento ressalta que as atividades pedagógicas não presenciais podem acontecer por meios digitais (videoaulas, conteúdos organizados em plataformas virtuais de ensino e aprendizagem, redes sociais, correio eletrônico, blogs, entre outros); por meio de programas de televisão ou rádio; pela adoção de material didático impresso com orientações pedagógicas distribuído aos alunos e seus pais ou responsáveis; e pela orientação de leituras, projetos, pesquisas, atividades e exercícios indicados nos materiais didáticos. Sobre a comunicação, ressalta que é essencial neste processo, assim como a elaboração de guias de orientação das rotinas de atividades educacionais não presenciais para orientar famílias e estudantes, sob a supervisão de professores e dirigentes escolares. Neste período de afastamento presencial, recomenda-se que as escolas orientem alunos e famílias a fazer um planejamento de estudos, com o acompanhamento do cumprimento das atividades pedagógicas não presenciais por mediadores familiares. O planejamento de estudos é também importante como instrumento de constituição da memória de estudos, como um portfólio de atividades realizadas que podem contribuir na reconstituição de um fluxo sequenciado de trabalhos realizados pelos estudantes.  

Ainda no documento, o mesmo descreve que as orientações para realização de atividades pedagógicas não presenciais para reorganização dos calendários escolares neste momento devem ser consideradas como sugestões; nessa hora, a inovação e criatividade das redes, escolas, professores e estudantes podem apresentar soluções mais adequadas. O que deve ser levado em consideração são o atendimento dos objetivos de aprendizagem e o desenvolvimento das competências e habilidades a serem alcançados pelos estudantes em circunstâncias excepcionais provocadas pela pandemia.

Logo, ao pensar no acolhimento de alunos e professores, importante frisar que deveria ter sido iniciado no primeiro momento do afastamento físico e no início das medidas de aulas não presenciais. Os professores passaram e ainda passam por um turbilhão de emoções e descontentamento com a nova proposta de aula. O Instituto Península publicou em março de 2020 um artigo extremamente coerente e de suma importância ao momento atual, com o tema Sentimento e percepção dos professores brasileiros nos diferentes estágios do Coronavírus no Brasil no qual dentro dos critérios avaliados, os Cuidados e práticas de saúde física e mental: 1. Professores indicam estarem muito ou totalmente preocupados com a própria saúde; 2. Efeitos, apesar de pequenos, já podem ser notados na saúde mental dos docentes; 3. Docentes mulheres parecem estar ligeiramente mais preocupadas do que os docentes homens.

O acolhimento no retorno às aulas precisa ser realizado com muita empatia e uma grande estratégia é utilizar as competências socioemocionais como aliadas. Segundo o caderno de implementação da BNCC, no Brasil, até 2020, todas as escolas deverão contemplar as competências socioemocionais em seus currículos. Segundo CASEL, a educação socioemocional refere-se ao processo de entendimento e manejo das emoções, com empatia e pela tomada de decisão responsável. Para que isso ocorra, é fundamental a promoção da educação socioemocional nas mais diferentes situações, dentro e fora da escola. Portanto, para que as competências socioemocionais sejam trabalhadas no contexto escolar do aluno do século XXI, elas devem ser o foco de qualquer proposta curricular que venha a ser delineada a partir da BNCC.

Após o acolhimento, a escola vai precisar vivenciar o seu novo cenário, reconhecer a sua comunidade escolar para assim, reconhecer as aprendizagens adquiridas pelos alunos durante o distanciamento social, sem aulas presenciais. Certamente, os alunos adquiriram novas aprendizagens que não constavam no plano de aula, porém são aprendizagens que serão potencializadas cognitivamente.

Para elaborar o planejamento pedagógico, diante do exposto supracitado, faz se necessária a realização da avaliação diagnóstica para que o professor identifique de forma concreta o crescimento acadêmico dos seus alunos. Os conhecimentos prévios são precursores e o objetivo é criar condições para que todos os estudantes possam adquirir as competências necessárias para o aprendizado. Interessante, também, flexibilizar a avaliação diagnóstica no retorno, através de jogos, atividades lúdicas e dinâmicas.

Para a avaliação diagnóstica, espera se compreender quais foram as principais lacunas de conhecimento e em que momento os alunos enfrentaram dificuldades para construí-los. Assim, no planejamento, o professor conseguirá identificar essas questões em um processo a ser aprimorado. 

A questão em evidência volta a ser sinalizada quando o assunto é Base Nacional Comum Curricular, pois a implementação desta ainda passava por uma transição lenta. O alinhamento das ações pedagógicas com a BNCC é indissociável às vivências dos professores em sala de aula. No momento, o Mapa de Foco pode ser uma estratégia eficaz, onde delimita quais habilidades são inegociáveis para o desenvolvimento da aprendizagem de estudantes. No plano de curso macro ao cronograma micro, pode realizar as conexões entre os componentes de uma mesma área em diversas dimensões com as unidades temáticas e objetos de conhecimentos através de combinações.

O processo que está sendo vivenciado pela comunidade precisa ser integrado e partilhado nos resultados esperados pelas instituições escolares. A aprendizagem vista de forma significativa, flexível, prazerosa e inovadora. A escola tem que saber ouvir o aluno protagonista contar sobre as suas aprendizagens durante a pandemia.

Certos de todas as aprendizagens que foram obtidas pela sociedade, durante esse período, uma delas é que o professor pós COVID não entrará mais em sala com a sua caixa de giz na mão ou com seu pilot de quadro, ele já está preparando a sua caixa de ferramentas. O professor e o mundo compreenderam que a tecnologia está deixando um enorme legado e construindo um grande capítulo na História da Educação.


Por Michelle Rebello
Coordenadora Pedagógica da Equipe Netbil
22 de junho de 2020

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